O que fazer quando o som da regravação não corresponde ao original - Parte II
No post anterior, vimos sobre o que fazer quando o som da regravação não corresponde ao original, e hoje vamos dar continuidade a esse tema.
Para gravar uma refação com qualidade não basta se preocupar apenas com a parte técnica da captação, você deve entrar totalmente no clima da gravação original.
Então não é só entrar na cabine e soltar a voz?
Certamente que não, isso envolve vários detalhes importantes, vejamos:
Treinamento: mesmo que tenha gravado há pouco tempo ou no mesmo dia, vale repassar o texto ouvindo a gravação original como se já estivesse gravando. Faça isso por alguns minutos, repetidas vezes e imediatamente antes de gravar, para todos os trechos a serem regravados.
Projeção da voz: você provavelmente está com o seu equipamento ajustado de forma padrão pra você, caso contrário ajuste tudo igual ao dia da gravação original e então, logo que gravar um ou dois parágrafos, confira e compare o resultado com a gravação que irá receber os novos trechos. Preste atenção se há diferença de nível no áudio, o que, muitas vezes, é possível ajustar na edição, mas pode acontecer do nível estar correto e mesmo assim o som não estar compatível com o original. Pode ser que você não esteja no “clima” certo e sua voz realmente esteja diferente, ou o seu posicionamento diante do microfone esteja errado. Regrave até chegar no mesmo som, ritmo e clima originais.
Posicionamento diante do microfone: dependendo do estilo de locução é normal variarmos um pouco a distância do mic, o que rapidamente você verificará ouvindo a gravação original. Como já foi dito, uma pequena diferença na distância de captação ou até no seu posicionamento dentro da cabine/sala de gravação ou mesmo a posição do microfone pode representar uma grande diferença no seu áudio. Experimente mudar a sua distância para o microfone, lembrando: mais próximo = voz mais encorpada, cheia; mais distante = prevalência das médias e altas frequências e se você não estiver gravando em um ambiente com tratamento acústico aparecerá também o “som da sala”.
Edição: mesmo não sendo um especialista em edição de áudio, ao menos o básico – cortar e colar – não deve representar um problema para você. Grave sempre o trecho a ser substituído com uma certa folga de palavras antes e depois da que será substituída, para que tenha várias opções de pontos de corte. Caso vá substituir a frase inteira, comece pelo final da frase anterior e avance algumas palavras na frase seguinte. Neste caso a substituição é mais fácil, lembrando apenas de tomar cuidado em não cortar as respirações, que fazem parte da naturalidade da nossa fala. Se a substituição for de uma sílaba ou algumas palavras no meio da frase procure por bons pontos de corte, fáceis de visualizar na tela do seu computador com o auxílio do recurso de aproximação da imagem conhecido como zoom. A emenda costuma funcionar bem antes de consoantes como “b”, “k”, “d”, “p”, “t” e no meio das consoantes “f”, “s”, “ch”, “g”, “j”, “x”. Toda edição precisa ser conferida com a máxima atenção pela possibilidade de vestígios como ruídos ou estalos consequentes da má escolha do ponto de edição e também do nível do áudio e interpretação do trecho inserido quanto à sua coerência com o original.
Neste exemplo o ponto de corte, que deve sempre acontecer no nível 0dB, está antes da primeira letra “D” da palavra oportuniDades.
Como vimos a refação não é tão simples quanto pode parecer, pois exige uma certa dose de concentração, atenção, bons ouvidos e treino para repetir a interpretação original, além de habilidade para editar e fazer com que a substituição se mantenha transparente, como se fosse original. Muitas gravações curtas não compensam o trabalho para ajustar e emendar decentemente o arquivo original nos levando a regravação total.